A natureza humana

Após um bom tempo, volto aqui para pensar online, junto a quem me lê, acerca do que me invade a mente durante a observação diária do que as transformações diárias gritam. Pois, novamente, vejo narrativas tentando definir terminologias, moldar senso comum e, sobretudo, tentar monopolizar a moralidade ‘correta’ (como se isso existisse).

Então, estou sendo varrido diariamente por narrativas de que fulanos são bons, enquanto beltranos são maus… numa reedição da fala “Tonho da Lua”, que diz que “A Rutinha é boa e a Raquel é má”. A boa e velha luta classista, tão velha quanto andar para frente (com redundância e tudo), sempre com o intuito do ‘dividir para conquistar’, como preconizava Sun Tzu em seu “A arte da guerra”.

Nós precisamos entender melhor a natureza humana, porque o único perigo real que realmente existe é o próprio homem. (Carl Jung)

Assim, moldam-se tentativas de arquétipos, para que ilustre-se dentro da narrativa, que aqueles pertencentes ao grupo X são bons e os do grupo Y são maus – ou vice-versa – dependendo da lógica utilizada. Assim, temos a humanidade separada em castas, invariavelmente digladiando-se. Para tal, temos tanto um arquétipo combatendo outro, ou, simplesmente, a figura do ‘anti’.

É próprio da natureza humana, lamentavelmente, sentir necessidade de culpar os outros dos nossos desastres e das nossas desventuras. (Luigi Pirandello)

Ok, novamente me enrolei no raciocínio… explico melhor:

Temos um mundo separado, por exemplo, em direita x esquerda, conservadores x progressistas, religiosos x ateus; tal qual temos também os anti… antifascistas, anti-esquerda, anti-direita, anti-religião, etc…

A diferença entre um e outro é que no primeiro grupo, o embate trava-se para que se prevaleça o seu lado, enquanto, no outro, o embate é apenas para que aquilo que combatemos deixe de existir, mesmo que não tenhamos contra-proposta.

Daí, brotam ideias e filosofias baseadas no ‘lesser evil’, ou mal menor, como sugeri o nome, onde, mesmo que não estejamos escolhendo o que verdadeiramente queremos, estamos afastando aquilo que mais tememos que aconteça. Assim, por exemplo, vota-se na direita, por simplesmente ter ojeriza à ideia de que a esquerda volte ao poder, mesmo que essa direita não seja lá ainda o cenário ideal.

Quando você escolher o menor de dois males, recorde que ele ainda é um mal. (Max Lerner)

A coragem consiste em escolher o mal menor, por mais que ele ainda possa ser. (Stendhal)

A mesma lógica, li certa vez, acontece em cenários religiosos, onde mostra um conceito de mal tão caricato, tão bizarro, perverso e assustador, que qualquer esboço de bem, possa parecer um ótimo negócio.

Enfim, assim, como é que podemos separar quem, de fato, é bom ou mau nessa insanidade coletiva que vivemos?

Bem, eu diria que podemos começar por entender a natureza humana e, após isso, compreender o indivíduo e suas intenções.

Ainda não tinha aprendido o quanto a natureza humana é contraditória; não sabia quanta hipocrisia existe nas pessoas sinceras, quanta baixeza existe nos nobres de espírito, nem quanta bondade existe nos maus. (William Somerset Maugham)

Eu sou dos que creem que nascemos uma folha em branco e o ambiente em que vivemos, com quem nos relacionamos e nossos modelos e imprintings (carimbos, marcas, interações), nos molda. Também creio nas fases cognitivas e que, inclusive, mentes são cooptadas em estratégias de manipulação mental altamente elaboradas. Por exemplo, um povo todo pode ser levado a crer, via ‘arte’, jornalismo e todo tipo de comunicação ou propaganda, a uma determinada ideia. Temos aí o que dizia Nietzsche sobre a ‘transvaloração’, por exemplo, colocando em questionamento todo o sistema de valores, de tempos em tempos, podendo, no caso, fazer uma ideia que primeiramente parece absurda, através da repetição e da recontagem sistemática, possa, mais adiante, ser aceita com a modificação dos valores da pessoa. E eis, aos polêmicos da atualidade, podemos bugar ao vincular o que dizia Nietzsche, com o que Goebbels colocou em prática.

A+TRANSVALORAÇÃO+DOS+VALORES

Então, qual é a verdadeira natureza humana? É a biológica? É a moral? É a soma de tudo? Eis a questão…

O Darwinismo diz que sobrevive quem se adapta mais rápido… e aí não está inserido nenhuma questão moral. Já, nós, seres pensantes, podemos escolher um sistema moral, ético, bom, ou simplesmente descartar isso tudo em um cenário de crise. Ninguém aqui mataria por comida, sentado na cadeira de suas casas e com as contas pagas; já, em um cenário caótico, talvez. Há os que nem durante o caos flexibilizam suas regras, preferindo sucumbir do que trair-se. E, também, há quem ache que tem como cravar qual seria o certo ou errado. Eu, por exemplo, tenho limites. Primaria por minha sobrevivência, mas, não cometeria desatinos em nome desta.

Uma sociedade pode ser vista como doente na ótica de uma pessoa, enquanto é entendida como sã, em outra visão. Há quem veja a retomada conservadora como o fim dos tempos, enquanto há quem prefira qualquer outra coisa do que viver em um ‘paraíso’ socialista.

O que eu sei, após todas essas observações é que, muitas vezes, um ignorante pode cometer desatinos com a melhor das intenções. Tal qual, um catedrático pode criar cenários justamente se aproveitando da ignorância alheia, para moldar-lhes as ideias. Assim, moralidade não está, necessariamente, vinculada à quantidade de inteligência.

Talvez no conhecer o indivíduo e em como ele interage com o ambiente esteja a resposta. Pois o que são as massas senão a soma dos indivíduos? E, enquanto o indivíduo for importante, os arquétipos enfraquecem, pois não poderão mais generalizar. Podem até servir como itens de estudo e de parâmetro, mas, nunca mais como cláusulas pétreas irrefutáveis. Assim, podemos dizer que existem pessoas boas e más em qualquer nicho social. Sejam, gays, brancos, negros, héteros, etc, etc, etc…

Meu entendimento se baseia, exclusivamente, em entender a intenção da pessoa, versus o que ela, de fato, faz com o que ela sabe. Se ela usa o que sabe (mesmo sendo pouco ou muito acerca de algo) para o bem, então eu a vejo como boa, mesmo que com falhas e erros no processo. Agora, se subverte o que sabe para benefício próprio, em detrimento dos demais, não a classifico como boa…

Ética é a concepção dos princípios que eu escolho, Moral é a sua prática. (Mário Sérgio Cortella)

Estarei eu certo nisso? Não faço ideia… mas, é o que tenho para o momento. Ainda tenho bastante dúvidas sobre o que quero, mas, já tenho algumas certezas acerca do que não quero.

Seguimos a vida… sempre observando.

Dos(as) males(as) o(a) menor…

Existem várias filosofias de vida, e, sempre achei que cada um sabe o que é melhor para si. O caminho de uns pode ser diferente dos de outros, apesar de, ainda assim, todos cheguem a um mesmo final.

-Bem, e daí?- perguntam-se, certamente…

Pois o negócio é que tenho acompanhado muita coisa e, há tempos tenho notado que algumas filosofias de vida (mesmo que inconscientemente), acabem pregando sempre o “mal menor” como escolha…

Pensem aí, amigos… pensem em situações onde tiveram que optar pelo “menos ruim”, ao invés do que realmente era bom…

Lembrem-se daquela tia que sempre bradava “dos males o menor”, ou o clássico absoluto “vão-se os anéis, mas ficam os dedos” para ilustrar o quanto alguma situação poderia ser muito pior do que foi…

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Lembrem-se de suas auto-afirmações em algumas situações e que seu subconsciente os lembrava que “nada é tão ruim que não possa piorar”, e, dessa forma, deveríamos agradecer a porcaria que estava acontecendo… como vemos nas instruções atuais para, durante um assalto, cuidar para não “desagradar” os ladrões… afinal, “apenas” ser roubado nem é tão ruim, se comparado a morrer…

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Lembrem-se das últimas eleições que participaram… tentem lembrar se o seu sistema de escolha de votos nos cargos principais (presidente, governador, prefeito) foram baseados de fato no melhor candidato, ou, naquele em que vocês inspiravam alguma confiança, ou se, simplesmente, vocês resolveram votar em um candidato porque tinham horror só de pensar que o outro fosse eleito?

Por que escolher o mal menor?

Por que escolher o mal menor?

Você comprou receitas prontas, baseadas em medo e angústia, achando que se escolhesse aquilo que sua mente mandava, ao final, iria acontecer alguma merda porcaria?

Você concordou com a maioria por convicção ou simplesmente porque achava que era burro demais para decidir sozinho?

Você percebeu por si só que as situações eram boas ou nocivas ou ficou com a visão alheia do que é certo ou errado?

Você concordou com a afirmação diária (direta ou subliminar) de que os outros sabem o que é bom para você, afinal, você é uma vítima?…

Pois bem, sabemos que o sistema de escolhas atual pode ser uma bela armadilha… e, EU diria que, somente você sabe o que é melhor para você!

Quase uma besta...

Quase uma besta…

Um dos meus passatempos favoritos é jogar jogos de RPG no computador… e, um dos melhores que já joguei é a Saga “The Witcher”, onde o personagem principal, um caçador de monstros, além de outras coisas, convive constantemente com dilemas morais. E, durante a vivência das partidas, e, de acordo com as escolhas que eu fazia em nome dele, percebia sempre que havia a presença de bons e maus em todos os lados da contenda. Que todos os lados tinham alguma razão e também faziam burradas… e, ao final, o personagem Geralt of Rivia oscilava suas decisões baseadas no Lesser Evil, ou seja, o mal menor…

Ok, ok... tinha algumas decisões bem fáceis até...

Ok, ok… tinha algumas decisões bem fáceis até…

Também achava fantástico porque o game subliminarmente sempre nos levava a perguntar quem eram os verdadeiros monstros? Os que aparentavam ser, ou os que eram sem aparentar?

Acho que vivemos épocas parecidas com essas… apesar de não vivermos em épocas medievais e nem em mundos fictícios… mas, o sistema de escolhas anda bem próximo do que eu vivenciei nesses jogos… o meu, pelo menos…

Estamos em um mundo onde os conflitos se acirram diariamente. Por motivos diversos, com interesses diversos, e, certamente, com objetivos diversos.

O que salta aos olhos é o sistema de escolhas onde nem sempre o que é evidente é o correto. O que parece óbvio, não o é. E, é claro, vivemos em tempos onde a indução tenta fazer parecer que é nossa escolha tudo o que acontece.

Pois eu acho que num sistema onde as escolhas são pré concebidas e restritas, não existe liberdade numa decisão.

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Não adianta te deixarem escolher entre carne, peixe ou frango se você é vegetariano, por exemplo…

Pois é assim que tenho visto os acontecimentos mais recentes… e, convivendo em grupos de debates e trocando ideias com amigos, percebo que a tendência também tem sido o viés do “dos males o menor”…

Por exemplo… há quem ache o nosso sistema político maravilhoso… e há quem o ache um caos… há quem ache que vivemos em uma democracia, ou seja, é nossa escolha tudo isso que está por aí; e há quem ache que vivemos em uma pseudo ditadura de esquerda… há quem ache que o socialismo é a solução para resolver o problema do egoísmo coletivo; mas há quem ache que ditaduras comunistas são mais tiranas do que o próprio sistema capitalista… há quem ache que estamos vivendo tempos de pré colonialismo cubano; e há quem ache que os EUA, o símbolo imperialista está jogando este jogo de dominação mundial… há quem ache que ditaduras comunistas são solução; e há quem ache que a solução seria a volta da ditadura militar… há quem ache que entre ser colonia cubana e ser colonia americana, ficaria com a primeira ou segunda opção; e há quem ache que não deveríamos pensar em ser colonia de ninguém em pleno século XXI…

A vermelha você sai da Matrix, e a azul, vai te dar uma noite de sexo prolongada...

A vermelha você sai da Matrix, e a azul vai te dar uma noite de sexo prolongada…

Enfim, ilustro acima muito do que tenho lido/vistou/ouvido ultimamente, e, aí fica evidente que, mesmo com “escolhas”, ainda assim os cenários podem não ser nada bons…

Creio que que linka tudo isso é o fato de que são sistemas baseados em medo. Em pessimismo. E, creio também que, esse medo e pessimismo é o fator que justamente faz com que as pessoas entendam que essas escolhas partiram delas mesmas… este sistema induz, com ares de liberdade e democracia, a que cada um volte-se para seus medos e pergunte: o que eu sacrificaria para acabar com isso? Do que eu abriria mão para parar toda essa bagunça?

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Pois bem… esses sistemas são baseados justamente nisso. No extremismo de lhes deixar tão apavorados que dariam tudo o que tivessem para seus “salvadores”…

É a velha pergunta: quanto você pagaria agora, aí sentado em sua casa, por um copo de água da torneira? – NADA – diriam alguns… – JÁ PAGO A CONTA NO FIM DO MÊS – diriam outros… enquanto a verdadeira pergunta é: quanto pagariam por um copo d’água num deserto, após dias de sol intenso? E se você estivesse já à beira da morte?

O detalhe principal é… o que os levou daí da sua casa ao deserto? E, principalmente, QUEM os colocou nessa posição? E, é claro, o POR QUE disso tudo?

Minimizar os males é realmente uma escolha? Ou, simplesmente, querem que pensemos isso?

Pois, pensemos nisso…

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