Após um bom tempo, volto aqui para pensar online, junto a quem me lê, acerca do que me invade a mente durante a observação diária do que as transformações diárias gritam. Pois, novamente, vejo narrativas tentando definir terminologias, moldar senso comum e, sobretudo, tentar monopolizar a moralidade ‘correta’ (como se isso existisse).
Então, estou sendo varrido diariamente por narrativas de que fulanos são bons, enquanto beltranos são maus… numa reedição da fala “Tonho da Lua”, que diz que “A Rutinha é boa e a Raquel é má”. A boa e velha luta classista, tão velha quanto andar para frente (com redundância e tudo), sempre com o intuito do ‘dividir para conquistar’, como preconizava Sun Tzu em seu “A arte da guerra”.
Assim, moldam-se tentativas de arquétipos, para que ilustre-se dentro da narrativa, que aqueles pertencentes ao grupo X são bons e os do grupo Y são maus – ou vice-versa – dependendo da lógica utilizada. Assim, temos a humanidade separada em castas, invariavelmente digladiando-se. Para tal, temos tanto um arquétipo combatendo outro, ou, simplesmente, a figura do ‘anti’.
Ok, novamente me enrolei no raciocínio… explico melhor:
Temos um mundo separado, por exemplo, em direita x esquerda, conservadores x progressistas, religiosos x ateus; tal qual temos também os anti… antifascistas, anti-esquerda, anti-direita, anti-religião, etc…
A diferença entre um e outro é que no primeiro grupo, o embate trava-se para que se prevaleça o seu lado, enquanto, no outro, o embate é apenas para que aquilo que combatemos deixe de existir, mesmo que não tenhamos contra-proposta.
Daí, brotam ideias e filosofias baseadas no ‘lesser evil’, ou mal menor, como sugeri o nome, onde, mesmo que não estejamos escolhendo o que verdadeiramente queremos, estamos afastando aquilo que mais tememos que aconteça. Assim, por exemplo, vota-se na direita, por simplesmente ter ojeriza à ideia de que a esquerda volte ao poder, mesmo que essa direita não seja lá ainda o cenário ideal.
A mesma lógica, li certa vez, acontece em cenários religiosos, onde mostra um conceito de mal tão caricato, tão bizarro, perverso e assustador, que qualquer esboço de bem, possa parecer um ótimo negócio.
Enfim, assim, como é que podemos separar quem, de fato, é bom ou mau nessa insanidade coletiva que vivemos?
Bem, eu diria que podemos começar por entender a natureza humana e, após isso, compreender o indivíduo e suas intenções.
Eu sou dos que creem que nascemos uma folha em branco e o ambiente em que vivemos, com quem nos relacionamos e nossos modelos e imprintings (carimbos, marcas, interações), nos molda. Também creio nas fases cognitivas e que, inclusive, mentes são cooptadas em estratégias de manipulação mental altamente elaboradas. Por exemplo, um povo todo pode ser levado a crer, via ‘arte’, jornalismo e todo tipo de comunicação ou propaganda, a uma determinada ideia. Temos aí o que dizia Nietzsche sobre a ‘transvaloração’, por exemplo, colocando em questionamento todo o sistema de valores, de tempos em tempos, podendo, no caso, fazer uma ideia que primeiramente parece absurda, através da repetição e da recontagem sistemática, possa, mais adiante, ser aceita com a modificação dos valores da pessoa. E eis, aos polêmicos da atualidade, podemos bugar ao vincular o que dizia Nietzsche, com o que Goebbels colocou em prática.
Então, qual é a verdadeira natureza humana? É a biológica? É a moral? É a soma de tudo? Eis a questão…
O Darwinismo diz que sobrevive quem se adapta mais rápido… e aí não está inserido nenhuma questão moral. Já, nós, seres pensantes, podemos escolher um sistema moral, ético, bom, ou simplesmente descartar isso tudo em um cenário de crise. Ninguém aqui mataria por comida, sentado na cadeira de suas casas e com as contas pagas; já, em um cenário caótico, talvez. Há os que nem durante o caos flexibilizam suas regras, preferindo sucumbir do que trair-se. E, também, há quem ache que tem como cravar qual seria o certo ou errado. Eu, por exemplo, tenho limites. Primaria por minha sobrevivência, mas, não cometeria desatinos em nome desta.
Uma sociedade pode ser vista como doente na ótica de uma pessoa, enquanto é entendida como sã, em outra visão. Há quem veja a retomada conservadora como o fim dos tempos, enquanto há quem prefira qualquer outra coisa do que viver em um ‘paraíso’ socialista.
O que eu sei, após todas essas observações é que, muitas vezes, um ignorante pode cometer desatinos com a melhor das intenções. Tal qual, um catedrático pode criar cenários justamente se aproveitando da ignorância alheia, para moldar-lhes as ideias. Assim, moralidade não está, necessariamente, vinculada à quantidade de inteligência.
Talvez no conhecer o indivíduo e em como ele interage com o ambiente esteja a resposta. Pois o que são as massas senão a soma dos indivíduos? E, enquanto o indivíduo for importante, os arquétipos enfraquecem, pois não poderão mais generalizar. Podem até servir como itens de estudo e de parâmetro, mas, nunca mais como cláusulas pétreas irrefutáveis. Assim, podemos dizer que existem pessoas boas e más em qualquer nicho social. Sejam, gays, brancos, negros, héteros, etc, etc, etc…
Meu entendimento se baseia, exclusivamente, em entender a intenção da pessoa, versus o que ela, de fato, faz com o que ela sabe. Se ela usa o que sabe (mesmo sendo pouco ou muito acerca de algo) para o bem, então eu a vejo como boa, mesmo que com falhas e erros no processo. Agora, se subverte o que sabe para benefício próprio, em detrimento dos demais, não a classifico como boa…
Estarei eu certo nisso? Não faço ideia… mas, é o que tenho para o momento. Ainda tenho bastante dúvidas sobre o que quero, mas, já tenho algumas certezas acerca do que não quero.
Seguimos a vida… sempre observando.