O anti(a)

Estamos em tempos dualistas. Ou se é preto, ou branco; gay ou hétero; macho ou fêmea; petista ou peessedebista; coxinha ou pão com mortadela; esquerda ou direita… enfim, um saco!

Pois, novamente, me pego observando um padrão nisso tudo. Sim, tento o tempo todo dissecar coisas para ver se enxergo um padrão interno. Um algoritmo, programação, ou coisa que o valha.

Pois nesses comportamentos conflitantes, geralmente encontramos a figura do “anti”. Que, ao final, pode também ser encarada como uma figura “anta” (sempre lembrando que o meu sobrenome “Ketzer” é “Herege” em alemão, ou seja, eu sou “anti(a)” de nascença).

Não, o “anta” não é nenhuma pegadinha para pessoas que alteram títulos, incluindo este sufixo, embora, não esteja descartada a possibilidade.

Essa figura é o antagonista, o do contra, a via oposta. Mas, a pergunta é: o porquê ocupa-se esse papel… e, daí resulta se a criatura é um anti ou uma anta…

Se é contra por convicção própria, beleza. Se é por convicção alheia… bem… dá para imaginar em qual categoria eu o encaixaria.

Pois então. Como de costume, iniciemos no amansa (o de hoje é o Michaelis versão digital da UOL):

an.ta.go.nis.ta
adj. e s., m. e f. Que, ou o que é oposto ou contrário a alguém ou alguma coisa.

an.ta.go.nis.mo
s. m. 1. Estado de oposição, velada ou declarada, entre duas pessoas, duas nações ou duas idéias. 2. Rivalidade, hostilidade.

an.ta.gô.ni.co
adj. Contrário, oposto.

an.ta
s. f. Zool. Ungulado da ordem dos Perissodátilos, da família dos Tapirídeos, um dos maiores animais da fauna brasileira; tapir.

Ok. A parte do anta, foi uma inserção de merda piadista para identificar o prefixo das expressões, incluindo-os na proposição inicial de “anti” ou “anta”. Embora, no dicionário informal, o termo anta refira-se à burro mesmo. Ih, piorou. Deixa pra lá. Seguimos.

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Fazer oposição é direito de qualquer um. É um dever, eu diria. Ainda mais quando a causa dessa oposição é algo corrosivo e danoso. Mas, a oposição apenas como “anti”, ou, como uma simples força contrária na tentativa de anular a outra força, pode ser apenas um dos tantos estratagemas de controle ou desordem de mentes.

Explico. Exemplificando, é claro… ou tentando.

A antimatéria. É um conceito da física, buscado desde sempre, e, com o conceito complicado. Quer ver?

Antimatéria na física de partículas e na química quântica, é a extensão do conceito de antipartícula da matéria, por meio de que a antimatéria é composta de antipartículas da mesma maneira que matéria normal está composta das partículas.

Por exemplo, anti-elétrons (pósitrons, elétrons com carga positiva), antiprótons (prótons com carga negativa) e antinêutrons (com carga nula como os nêutrons) poderiam dar forma a antiátomos da mesma maneira que elétrons, prótons e nêutrons dão forma a átomos normais da matéria.

Fonte: Wikipedia

Entenderam? Nem eu… mas, filosoficamente, usa-se o conceito como algo a anular a “matéria”… ou, enquanto alguns acreditam que a antimatéria não deixa de ser matéria, há quem ache que ela é apenas a antítese da matéria… ou, polaridades inversas da matéria em questão. Por isso eu prefiro filosofar ao invés de calcular.

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Uso esse exemplo para tentar abordar os pensamentos meramente “anulantes” do contrário, do que este pensamento ser um construtivista, de fato.

Como?

Bem, vamos lá… isso vai ser complicado.

Quando o ser humano começou a compreender o bem, automaticamente, teve que ter ideia do que era o mal. Para a criação de Deus, criou-se um asmodeus, ou, o diabo. Não se sabe necessariamente se é uma entidade de fato, uma egrégora ou uma construção mental coletiva. Mas, na crendice popular, ele exerce o papel antagônico. Para mim, reflete mais o conflito interno humano, que distancia-se do conceito divino de Deus, na concepção judaico-cristã, do que qualquer outra coisa… mas, ainda assim, há quem creia em sua existência e debite suas falhas à sua ação direta.

Também, em todo e qualquer sistema, teremos uma figura antagônica, com equivalências de poderes e que, servirá de contra-argumento, de relativismo e, sobretudo, com a intenção de atirar de volta no debate forças proporcionalmente inversas com a intenção de anular o que vem do outro lado. Ou, a antimatéria mental.

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E é assim que eu vejo muito do que acontece hoje em dia.

Arthur Schopenhauer em sua dialética erística, escreveu os estratagemas para se ganhar um debate sem precisar ter razão. E, nesse compêndio, ele nos ensina que dá para tergiversar e atacar ideias sem, necessariamente aperfeiçoá-las. Resumindo, detone o debate e seus argumentos e saia vitorioso.

Nos tempos da guerra fria (que voltou à cena “vintage” do mundo político), falava-se muito na informação e na contrainformação. Falava-se nos serviços secretos de espionagem, na CIA x KGB, que inseriam conceitos antagônicos nas mentes para deturpar os entendimentos. Para toda informação, surgia uma contrainformação que negava, ou, colocava aquela pulga atrás da orelha do cidadão e, no mínimo, os mantinha de mãos atadas sem saber bem o que fazer. Pois, à época, não existia a internet… e, o acesso à informação e ao conhecimento estava em livros e bibliotecas… mas, o fato de hoje ter muito mais informação disponível, também, em contrapartida, faz com que se tenha muito mais contrainformação. Pensamentos contrários em tempo integral. Para Marx, temos Mises, para Gramsci, temos que ter todo o resto… afinal, ele “apenas” ensina a ruir toda a civilização ocidental judaico-cristã. E, há quem vincule isso à contrainformação dos tempos da KGB, que, nas palestras do desertor Yuri Bezmenov, ensinou que o seu trabalho era subverter pensamentos. Um a um. Geração a geração. E, desse conceito, o mesmo Gramsci utiliza o termo: “idiota-útil”, para aqueles que se “formaram no programa”. O que, da mesma forma, comprova minha teoria de que dá para ser formado e versado em algo, e, mesmo assim, aumentar o seu idiotismo. Inteligência não está vinculado ao tamanho do seu saber, mas sim, como você o aplica e o que se beneficia disso. Se te traz liberdade mental ou te aprisiona.

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E, é justamente aí o meu ponto-chave do post de hoje. O que essas linhas antagônicas nos proporcionam? Elas nos libertam ao conflitarem-se ou apenas nos enclausuram em um conflito pré-estabelecido para que percamos o foco para o que realmente acontece ao redor?

Será um “bait”, ou isca, para que pensemos que o mundo está restrito àquilo.

Retoco para dizer que é bem diferente o uso da contra-argumentação no caso da antítese a uma tese. E, do processo dentre as duas, extraia-se a síntese. Nisso eu acredito. Acho válido. Mas, como sabemos e já andei dizendo anteriormente, nem todos tem idoneidade moral em seus argumentos. Alguns não querem a síntese. Usam a contra-argumentação, ou, a antimatéria mental para que justamente evite-se isso.

Mas, ao contrário dos tempos atuais, que são dualistas, eu ainda acredito na filosofia da “corda de violão”, onde se apertar demais, arrebenta, e, se afrouxar demais, não dá o tom certo… então, não se trata de matéria ou antimatéria, mas, algo mais na linha “Teoria Hermética”, onde Hermes Trismegistos dizia que quente e frio não são antagônicos entre si, mas, apenas polaridades de uma mesma coisa. A temperatura.

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2 pensamentos sobre “O anti(a)

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